Após 5 anos de agressão, vítima de violência conta sua história de superação

Simone (nome fictício) perdeu o emprego por causa da perseguição do ex-marido, o direito à liberdade e também a autoestima

Após 5 anos de agressão, vítima de violência conta sua história de superação


Texto: Djeisan Maria

A violência contra a mulher não escolhe idade, raça ou credo. Simone (nome fictício), aos 30 anos, achou que estaria livre dessa realidade pois tinha emprego, autoestima, e sentia-se independente.  Mas a violência chegou à sua casa. Foi devagarinho. Começou com a depreciação da sua aparência, quando o companheiro dizia que ela era feia, e que ninguém, além dele, iria querer se casar com ela.

Depois de 4 meses de relacionamento, eles se separaram, mas as perseguições continuaram por muito tempo. A violência psicológica evoluiu para a física e foram quatro boletins de ocorrência em 5 anos. Simone perdeu o emprego por causa da perseguição do ex-marido, o direito à liberdade e também a autoestima.

 “O que mais me marcou foi a depreciação que ele fazia comigo, a violência psicológica. Demorou para me recuperar, pra voltar a acreditar que era capaz de trabalhar, de amar e de ser amada”, contou. 

Nesse processo, ela teve de viver cerca de um mês na Casa Maria Cândida (casa de abrigamento), pois corria risco de morte. Atendida na Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres da Serra (Seppom), Fernanda começou a recuperar o gosto pela vida. “Foi um trabalho longo e doloroso para acreditar na felicidade novamente. Eu era leiga em termos de justiça. Não sabia onde procurar ajuda, o que fortalecia as agressões dele”, disse.

Hoje, aos 38 anos, Fernanda trabalha em uma empresa de ônibus, casou-se novamente e cuida dos filhos. “ A minha vida é outra. Hoje eu sei quem eu sou: informada, empoderada e feliz. Tenho planos, sonhos e expectativa de futuro”, diz

Mapeamento

De acordo com os atendimentos da Seppom, a maioria das vítimas sofre com violência psicológica, que afeta toda a sua vida. A secretaria tem mapeado esse cenário na Serra e o levantamento mostra que o número de mulheres que tem tomado coragem e procurado a Seppom tem crescido a cada ano.

A maioria dessas mulheres concluiu o ensino médio, é evangélica, tem dois filhos, está desempregada e tem entre 30 e 45 anos.  Aquelas que possuem alguma renda, normalmente recebem menos de um salário mínimo e não têm acesso a benefício sociais. “Essas pessoas sofrem de 1 a 5 anos antes de procurar ajuda. Precisamos quebrar esse ciclo de violência para que vidas sejam salvas e as mulheres se conscientizem que viver assim não é normal”, pontua a titular da Seppom, Luciana Malini.