Futebol e cidadania reúne população de rua e comunidades

O campeonato deve começar em março e as regras são diferentes do futebol convencional

Futebol e cidadania reúne população de rua e comunidades


Texto: Djeisan Lettieri - Foto: Divulgação

Um jogo de futebol diferente em que vencedor não é definido pelos gols feitos na partida e sim pelo respeito às regras durante a disputa. Esse é um dos fundamentos do Projeto Futebol Callejero, que está sendo implantado na Serra, voltado para as pessoas em situação de rua.

A ideia do Futebol Callejero, ou de rua, nasceu na Argentina e já foi aplicado no Brasil, em São Paulo. As regras nas partidas são diferentes do esporte tradicional. Não há juiz e sim mediadores que são treinados para conduzir as partidas, cujas regras são definidas no início de cada jogo.

No Espírito Santo, o projeto é realizado através de uma parceria entre a Universidade Federal do Estado (Ufes), o Movimento Nacional de População de Rua, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) da Serra e ainda de outros municípios, que são Vitória e Vila Velha. Cada município terá seu polo onde acontecerão os jogos seletivos para o campeonato final, em que estarão presentes cinco equipes de cada localidade.

Objetivo

O coordenador do projeto, o professor Elizeu Dorloti, explica que mais importante que a prática de um esporte são os benefícios sociais que a ação pode gerar. Ele explica que as comunidades do município são convidadas a participar dos jogos. “Isso quebra o estigma do medo, muitas vezes, que as pessoas têm da população de rua. Dessa forma, podem entender que são pessoas, mas que estão em situação de rua”, avalia.

Elizeu também explica que para a população de rua é importante porque conseguem aprender a lidar melhor com os conflitos por conta da prática da obediência às regras durante as partidas de futebol. “Essa pessoas poderão aprender a lidar melhor com as desavenças, a respeitar o espaço do outro, os limites”, comenta.

Segundo a secretária de Assistência Social da Serra, Elcimara Rangel, explica "a ideia da realização deste projeto no município veio a partir do desafio de trabalhar o estigma da sociedade com relação a população em situação de rua, que no geral são vistos de maneira preconceituosa. "Para além dos aspectos relacionados à saúde, o projeto trabalha a inclusão social, respeito à diversidade, mediação de conflitos, por meio de diálogos e participação de todos envolvidos, sobretudo trabalhando autonomia e a construção da cidadania dos jovens", revela Elcimara.

Campeonato

A previsão é que em março os jogos comecem na Serra. No final deste campeonato, haverá cinco times selecionados, sendo que os times poderão ser formados somente por moradores de rua ou por esses e outras pessoas da comunidade.

“A ideia é incluir a população de rua, fazer times mistos com a comunidade, promover integração. Vale lembrar que essas pessoas em situação de rua também fazem parte da comunidade, no entanto não são consideradas pela própria comunidade, são quase invisíveis. É a população mais violada em seus direitos atualmente”, avalia o coordenador do projeto.

Dolorti explica também que a ação é importante como forma de redução de danos, já que pode reduzir condições de violência oriundas de dependências químicas. “Isso pode dar uma nova perspectiva para a pessoa”, diz.

Os recursos do projeto são de até R$ 400 mil, provenientes do Ministério dos Esportes. O convênio com a Prefeitura da Serra foi assinado em fevereiro e prevê suporte para a realização das atividades.

Agenda

Nesta segunda-feira (29), às 10 horas, no Centro Esportivo Tancredo de Almeida Neves, conhecido como Tancredão,  em Vitória, acontece demonstração do projeto. Participam representantes da Ufes, dos municípios, da população de rua e ainda do Ministério do Esporte.