Origraffes: Fredone, da comunidade para a comunidade

Origraffes: Fredone, da comunidade para a comunidade

Origraffes: Fredone, da comunidade para a comunidade


Texto: por Rafael Ferraz

Frederico, mais conhecido como Fredone Fone, ficou conhecido no Estado como um artista urbano que vive de sua arte. A carreira dele se iniciou após a primeira tinta sair de uma lata de spray, em uma das ruas do bairro Serra Dourada 2, onde ele foi criado.

Carioca, nascido em Bom Jesus do Itabapoana, veio para a Serra quando tinha apenas um ano de idade, quando a família resolveu buscar oportunidade de trabalho. Ao chegarem aqui, o pai conseguiu emprego como pedreiro e a mãe fazia doces, bolos, salgados e tortas para ajudar no orçamento familiar.

Para não perder as raízes da infância e incentivar que outros jovens da comunidade possam conhecer o grafite, ele realiza um projeto de arte pública chamado Latinta. Esse projeto recebe artistas de outros lugares, que pintam muros cedidos pelos moradores do bairro. Já participaram artistas de São Paulo, Itália, Suíça e França. O material sai do bolso dele, sem nenhum incentivo.

Ao ser questionado sobre qual é a maior inspiração dele, disse que é difícil dar uma resposta curta. Mas nas frases formuladas, afirmou que inspirações vêm de todos os cantos, e que uma das principais é a vida na periferia, que se desdobra entre as dificuldades e as habilidades para garantir a sobrevivência. ?Transformamos tudo em arte? completou.

Confira o bate-papo completo:

SECOM: Como e quando iniciou a carreira no grafite?

FREDONE: Comecei a pintar na rua em 1995, influenciado pelo universo do Skate, escrevendo com uma lata de spray pelas ruas do bairro onde fui criado, na Serra. Conheci o hip-hop através do grafite e aos poucos fui saindo para pintar em outros bairros, cidades, estados e países.

SECOM: Você é natural do Rio e veio por qual motivo para o ES?

FREDONE: Isso. Nasci em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, cidade que faz divisa com o Espírito Santo. Do lado de cá está Bom Jesus do Norte. Quando eu ainda tinha um ano de idade meus pais vieram para a Serra - mais precisamente para Serra Dourada 2 - em busca de trabalho. Meu pai trabalhou de pedreiro e eu trabalhei com ele dos dez aos vinte e poucos anos. Minha mãe fazia salgados, bolos e tortas e eu também a ajudava. Há um ano e meio moro no Centro de Vitória, mas mantenho fortes ligações com Serra Dourada, onde ainda vive meus pais e onde também organizo um projeto de arte pública chamado Latinta.

SECOM: Qual sua maior inspiração?

FREDONE: Difícil dar uma resposta curta. A vida na periferia, que se desdobra entre as dificuldades e as habilidades que desenvolvemos para garantir nossa sobrevivência, transformando tudo isso em arte. 

SECOM: O que você espera do evento Origraffes deste ano?

FREDONE: Espero encontrar amigos e amigas que a arte de rua me apresentou, além de ter esperança de que com a realização de mais esta edição, de algum modo, a cultura da periferia seja vista com mais respeito. Estamos muito longe disso.

SECOM: Você trabalha somente com grafite?

FREDONE:  Não chamo de grafite nada que eu faça por dinheiro. Evito bastante usar esta palavra. Entendo o grafite como algo transgressor, autônomo e livre de contratos, pagamentos ou ligação com instituições. Assim o espírito do grafite que conheci se mantêm vivo, "invendável" e automaticamente "que não compra". É nossa liberdade. Minha renda vem de muitas coisas que faço, tudo ligado à arte: venda de arte, palestras, oficinas, design, pintura de murais, música e outros.

SECOM: Qual o recado que você dá para aqueles que querem iniciar uma carreira no grafite?

FREDONE: 1 - Pinte muito e ocupe toda a cidade: se constrói um nome e uma trajetória pintando na rua. 2 - Estude e desconfie de fontes sobre o assunto criados no Brasil: a grande maioria delas deturpam a história na tentativa de domesticar nossa arte. Um exemplo claro disso é que no Brasil criou-se o termo "pixação" ou "pichação". Este termo só existe aqui. Lá fora tudo isso é grafite.

Nesta sexta-feira (20) começa o festival Origraffes, que será realizado na pracinha de Feu Rosa, na Serra. Fredone é um dos muitos artistas que estarão expressando a sua arte através das coloridas tintas, que dão vida aos desenhos. O evento, que acontece desde 2016, tem principal eixo temático o grafite, mas envolve os demais elementos da cultura hip-hop.

Para ver a arte do Fredone e de outros 100 artistas, é só comparecer ao evento, que é gratuito. Abaixo, você confere a programação completa:

Sexta-feira (20/07)

9H ? Credenciamento dos artistas e distribuição dos kits

Início do GRAFITE

11H ? Inscrição para batalha de break

14H - Continua GRAFITE

17H ? Início da batalha de break ? DJ Jota

18H ? Término da batalha de break ? DJ Jack

18H ? Inscrição para batalha de MC?s

19H- Apresentação musical do grupo LARGANDO VERSOS

20H ? Retorno da batalha de MC?s

20H30 ? Apresentação musical GRUPO ANOMIA

21H ? Retorno da batalha de MC?s

Sábado (21/07)

10H ? Apresentação trupe circense ACADEMIA DE SONHOS E BANDA FANFARRA, oficina RECRIARTE (mandala, mosaico, pintura de rosto, cata-vento, reciclagem de material pet/artesanato infantil)

Início do GRAFITE

14H ? Continua GRAFITE

15H- Oficina e apresentação teatral ACADEMIA DE SONHOS

16H ? Apresentação circense MANDRAKEON

17H ? Início das semifinais e finais das batalha de break

18H ? Término das batalhas de break/ Discotecagem DJ Jota

19H ? Apresentação musical grupo SUSPEITOS NA MIRA

21H ? Retorno da batalha de MC?Ss

22H ? Apresentação THIAGO ELNIÑO (atração nacional)

22H30 ? Retorno da batalha de MC?s (final)

Domingo (22/07)

10H ? Início GRAFITE

14H ? Continua GRAFITE

15H ? Apresentação de dança/break