Agente Rosemary conta como trânsito deixou marcas na sua vida pessoal e profissional

A Serra conta com outros 54 agentes de trânsito. Servidores que carregam suas histórias guardadas debaixo da farda, uma foto de seus familiares no bolso e um propósito de trabalho firme em seus corações

Agente Rosemary conta como trânsito deixou marcas na sua vida pessoal e profissional


Texto: Miranda Perozini - Foto: Bruno Leão

Quem passa apressado pela vida não escuta o que ela tem a dizer. Por isso foi assim, ouvindo atentamente aos sinais da vida, que a agente Rosemary Nunes Keller, de 48 anos, decidiu mudar o rumo de seu trabalho no Departamento de Operações de Trânsito da Serra. 

Mary, como é chamada carinhosamente pelos amigos de departamento, tem olhos azuis claros como o mar da Serra.  Daquele tipo que transmite calma e ao mesmo tempo, profundidade, como se tivessem muita história para contar. Seu sorriso amigável e sua postura otimista passeiam pela Secretaria de Defesa Social sem se intimidar pelo peso da farda marrom. 

Em 2001, o DOT recebeu Rosemary como uma das novas agentes de trânsito. A nomeação aconteceu bem depois de ela ter passeado pelas salas de aula como professora de matemática e se aventurado no mundo dos números na faculdade de engenharia mecânica. Quando decidiu ser agente de trânsito, ela não esperava se encontrar na profissão. 

“Foi buscando estabilidade que me inscrevi pra trabalhar aqui, mas acabei me encontrando. A vida é assim mesmo, cheia de caminhos que não conseguimos explicar”, ela disse. Três meses depois de se tornar agente, em novembro de 2002,  Mary recebeu uma mensagem da vida. Daquelas que não são fáceis de entender, e muito menos de aceitar. 

“Em um acidente de trânsito eu perdi o meu pai”, conta. O senhor Osvaldo Nunes, de 68 anos, deixou onze filhos no dia em que saiu para fazer uma caminhada e foi surpreendido por um veículo em alta velocidade, que furou o sinal vermelho. “Ele fez tudo certo”, acrescenta Mary, “ele estava na faixa de pedestres.”

A família grande e unida do senhor Nunes perdeu uma grande referência. Mas mesmo na adversidade, Mary escutou o pedido da vida, e percebeu que era a hora de mudar a direção da sua carreira. Logo optou por trabalhar no desenvolvimento e atuação do Núcleo de Educação para o Trânsito (Net), que é hoje um braço importante do DOT.

“Depois de perder a minha maior referência, o desejo que tive foi de usar a minha profissão para evitar que mais pessoas sintam a minha dor. O meu objetivo como agente é salvar vidas e preservar famílias”, conta. 

E pensando em preservar famílias, que de vida em vida, o trabalho se concretiza aos poucos. O Núcleo de Educação para o Trânsito leva  informação, por meio de blitz educativas, ações isoladas, palestras e distribuição de panfletos, e trabalha para que a consciência chegue aos mais velhos, aqueles que já são pedestres, motoristas e motociclistas.

Mas é na vida mais jovem que a informação encontra espaço para criar raízes. Para Mary e para todo o departamento, o melhor trabalho e o mais satisfatório, é com as crianças. “A criança é uma tela em branco. É difícil mudar hábitos de adultos, mas crianças entendem com facilidade o certo e o errado. Acreditamos que o que é ensinado hoje, não sai do coração de uma criança”, conta. 

Por isso, o Net trabalha em parceria com a Secretaria de Educação para levar às escolas brincadeiras, informativos e abordagens que ensinam os pequenos a lidar com o cotidiano do trânsito. As ações, que antes aconteciam em datas específicas, agora serão recorrentes, graças ao projeto Transitanto, que implementou a educação para o trânsito como disciplina transversal nas escolas. 

O otimismo é o combustível que move este time

“Quem trabalha com a vida, precisa estar atento a ela”, disse Mary, em mais uma de suas falas perspicazes. A Serra conta com outros 54 agentes de trânsito como Rosemary. Servidores que carregam suas histórias guardadas debaixo da farda, uma foto de seus familiares no bolso, e um propósito de trabalho firme em seus corações. Um time otimista e dedicado a levar a vida adiante. “Eu sou realizada aqui. Meus colegas são realizados aqui. E acreditamos na nossa missão”, comenta.

Neste Dia Nacional do Agente de Autoridade de Trânsito, parabenizamos os profissionais do município e convidamos você a passar devagar não só pela via, mas pela vida. A mensagem mais importante pode ser dita por quem está ao seu lado.