Serra e Iphan iniciam processo de resgate do marco zero da cidade
Região ao pé do Mestre Álvaro, com indícios de ocupação indígena, pode ter sido o verdadeiro local de origem do município
Texto: Marcelo Pereira
- Foto: Edson Reis
Nos registros oficiais, a Serra começou a partir da fundação da Vila de Nossa Senhora da Conceição, feita pelos religiosos jesuítas, onde hoje é Serra Sede, em 1556. Mas, há indícios de que o local de nascimento da cidade, na verdade, pode ter sido aos pés do monte Mestre Álvaro.
Mais precisamente, na região de Cascata, nas áreas verdes atualmente ocupadas por chácaras e fazendas. Nesse local, há resquícios de que o local já era habitado antes daquele 8 de dezembro de 1556, data de aniversário da cidade.
Esses indícios poderão ser confirmados após recadastramento dos sítios arqueológicos da Serra. O trabalho, que será feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi proposto e estimulado no município pela Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Setur).
Na tarde da última quinta-feira (23), técnicos do instituto estiveram na região e registraram registros fotográficos de alguns desses sinais, já observados por moradores, que podem garantir futuramente que o chamado Sítio Marco Zero realmente abrigou um aldeamento indígena e dali foi a origem do povo serrano.
Foram encontrados, no terreno de algumas propriedades, objetos enterrados que podem ser vasos de cerâmica utilizados pelos indígenas em cerimônias funerárias.
Além disso, próximo a um córrego, marcas de ranhuras numa pedra indicam que ela pode ter sido utilizada pelos povos originários para amolar suas ferramentas e utensílios.
“Solicitamos essa agenda com o Iphan para retomarmos os estudos acerca do marco zero da cidade, iniciados no último mandato do prefeito Sérgio Vidigal. Estamos retomando n porque a descoberta do marco zero da cidade, além de proporcionar um ganho histórico e incomparável ao município, ou seja, descobrir onde a cidade realmente nasceu, no sopé do Mestre Álvaro, também vai contribuir para o desenvolvimento turístico da região”, explicou o diretor de Cultura da Setur, Fábio Boa Morte.
Presença indígena na região
Nas proximidades da festa de fundação da cidade, quando completará 467 anos, a questão de onde começou a Serra poderá ser revisitada. Ainda na primeira década dos anos 2000, o pesquisador, arqueólogo e professor Celso Perota, referência em estudos arqueológicos no Espírito Santo, sugeriu, a partir desses detalhes e objetos, que poderia ter havido um aldeamento indígena com uma população que pode ter chegado a 2 mil pessoas.
O superintendente do Iphan no Espírito Santo, Joubert Jantorno, acompanhou a primeira visita no sítio Marco Zero e considera que, numa primeira observação, o local merece atenção especial para pesquisa.
“Há indícios importantes mas precisaremos fazer um estudo para identificar a dimensão desse sítio como o período em que esse aldeamento pode ter ocorrido por aqui. Pode também se tratar de um sítio de alguns milhares de anos. Mas precisaremos fazer a datação e estudo arqueológico para confirmar. O que existe é um indício, segundo o pesquisador e professor Perota, de um potencial aldeamento inicial aqui nessa região, indicando o que pode ser a origem do município da Serra”, detalhou.
Recadastramento de sítios históricos
O superintendente do Iphan informou que o órgão vai investir R$ 500 mil numa ação de recadastramento dos sítios arqueológicos de todo o Espírito Santo.
“A finalidade é identificarmos com clareza se esses sítios permanecem onde anteriormente foram indicados, se essa localização ainda persiste porque com o processo do desenvolvimento econômico do Estado, alguns desses locais podem ter sido soterrados. Quando foram cadastrados pelo Iphan ainda nas décadas de 50 e 60, não tínhamos a ferramenta tecnológica necessária para indicar com precisão. Por isso devemos fazer o recadastramento para indicar de fato se esse sítio ainda permanece”, descreve.
Atualmente, são 46 locais e pontos de interesse arqueológicos na Serra. Todos estão listados pelo Iphan no cadastro dos sítios arqueológicos, disponível no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão do instituto.
Toda descoberta de bens arqueológicos deve ser imediatamente comunicada ao Iphan, que mantém o cadastro.
O que fazer se encontrar um artefato ou objeto de interesse arqueológico?
Caso seja encontrado algo de interesse arqueológico como cerâmicas utilitárias (urnas funerárias, vasos e vasilhas diversas, pontas de flecha, machados, lascas, adornos), o morador da Serra pode entrar em contato com o Departamento de Cultura da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Setur) pelo telefone (27) 3251-3257. O horário de atendimento é de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h.
Também pode entrar em contato com a superintendência do Iphan no Espírito Santo pelo (27) 3223-6808. Atende de segunda a sexta, das 8h às 17h.